Guilherme Barbosa, CEO da API Capital, avalia aceleração do modelo fee-fixo, crescimento dos fundos no exterior e maior procura por gestão de risco estruturada
O avanço da alocação internacional e a busca por estruturas independentes de orientação financeira têm redesenhado a forma como o investidor brasileiro constrói patrimônio. Dados recentes da ANBIMA mostram que o volume aplicado em ativos no exterior por pessoas físicas aumentou de forma consistente nos últimos anos, impulsionado pela maior oferta de produtos regulados e pela pressão por diversificação.
Para Guilherme Puglia Barbosa, consultor de investimentos e CEO da API Capital, o movimento indica uma transição de comportamento mais estrutural do que conjuntural. “A mudança não está mais ligada a um ciclo específico de juros ou câmbio, mas à percepção de que a diversificação global deixou de ser opcional”, afirma.
A tendência ocorre em paralelo ao fortalecimento do modelo fee-fixo, que separa a remuneração da distribuição de produtos financeiros. Em 2025, o segmento apresentou expansão no número de investidores atendidos, na XP, por exemplo, em apenas 3 anos o percentual de clientes atendidos no modelo fee-fixo saiu de 3% para 21%, reflexo do interesse crescente por estruturas sem conflito de interesses. A API Capital, fundada por Barbosa em 2023, acompanha esse movimento. Hoje, a consultoria atende mais de 900 famílias e R$1 bilhão de reais sob atendimento, com governança baseada em processos padronizados, tecnologia, e visão 360o que vai além dos ativos financeiros.

A procura por orientação mais técnica também tem relação com as incertezas macroeconômicas dos últimos ciclos. A volatilidade observada no período pós-pandemia, seguida pela reprecificação global de juros, elevou a demanda por gestão de risco. Segundo levantamento da própria ANBIMA, investidores têm ampliado participação em produtos indexados ao dólar e em estratégias de previdência com mandatos internacionais. “O investidor percebeu que depende menos da escolha pontual de ativos e mais da construção de estratégia, em um atendimento sem conflito de interesses. É isso que tem guiado as famílias que chegam até nós”, diz Barbosa.
O executivo aponta que a digitalização do mercado contribuiu para acelerar a tendência. O acesso a plataformas de análise, simuladores e dados em tempo real reduziu assimetrias e tornou evidente a necessidade de planejamento e investimentos estruturados. A combinação de tecnologia e consultoria especializada, avalia, passou a ser um fator competitivo para famílias que buscam previsibilidade. “O que observamos é um amadurecimento. O cliente está mais atento ao risco, entende correlação de ativos e cobra processo. Nosso papel é traduzir esse ambiente de forma técnica e acessível”, afirma.
Barbosa leva para o setor a experiência acumulada em quase 15 anos de carreira industrial, período em que liderou operações de grande porte na Dow e na Corteva. A formação técnica influenciou diretamente sua abordagem atual na consultoria. “A indústria me ensinou que processos, disciplina e ciência são elementos essenciais para decisões acertadas. Trouxe isso para as carteiras”, explica. A aplicação prática do modelo resultou em reconhecimento no ranking do BTG Pactual em 2024, quando a API Capital apareceu entre as Top 10 consultorias do país além de ter sido eleita também consultoria revelação.
Nos próximos anos, o consultor acredita que o movimento de internacionalização do patrimônio deve se intensificar, principalmente entre empresários e famílias de alta renda. Parte dessa projeção está ligada ao amadurecimento do investidor, que passa a entender a importância de ter parte do patrimônio fora dos riscos domésticos, ambiente que Barbosa pretende acessar com a expansão planejada da API Capital US. “As famílias estão buscando maior proteção patrimonial e preservação do poder de compra. A tendência é que o planejamento global deixe de ser exceção e se torne padrão”, afirma.
A expectativa, segundo ele, é de que a profissionalização do setor avance à medida que investidores exigirem maior clareza de processos, métricas de risco e acompanhamento contínuo. “O mercado está mudando rápido. Quem tiver método, transparência e compromisso com o cliente tende a se destacar. É esse movimento que estamos acompanhando diariamente”, conclui.