Contabilidade como estratégia de crescimento: por que pagar menos imposto pode ser legal e essencial para escalar com segurança

Reginaldo Faria Primo
Reginaldo Faria Primo

Empresas brasileiras ainda enfrentam dificuldades em traduzir dados contábeis em decisões estratégicas. Mas uma nova abordagem, centrada na inteligência fiscal, no apoio consultivo e na gestão financeira profissional, está mudando esse cenário

No Brasil, pagar imposto é um desafio,  e muitas vezes, uma armadilha. Segundo dados do IBPT, mais de 95% das empresas brasileiras recolhem tributos acima do necessário, muitas vezes por falhas no enquadramento tributário, desconhecimento das regras ou ausência de planejamento fiscal. O reflexo disso é direto: margens apertadas, crescimento comprometido e risco de autuações.

O problema, no entanto, não está apenas na complexidade do sistema tributário. Está também na forma como as empresas lidam com ele. A contabilidade ainda é vista por muitos empresários como uma obrigação acessória,  e não como ferramenta de gestão. Mas esse paradigma começa a mudar com o avanço da contabilidade consultiva.

“Boa parte das empresas paga mais do que deveria por falta de estratégia. Quando você atua de forma preventiva e analisa os dados com profundidade, surgem oportunidades reais de economia — dentro da legalidade”, explica Lucas Silva, fundador da LCS Contabilidade.

Planejar para crescer: como a contabilidade consultiva entra em cena

Mais do que apurar impostos, a contabilidade consultiva trabalha com projeções, análise de indicadores, revisão de enquadramentos fiscais e controle gerencial de desempenho financeiro. A proposta é simples: tomar decisões melhores com base em dados reais — não apenas por intuição.

De acordo com a PwC, 67% dos empresários brasileiros esperam que seus contadores atuem como consultores estratégicos nos próximos anos. A expectativa não é nova — mas a prática ainda é incipiente, principalmente entre micro e pequenas empresas.

Na LCS Contabilidade, por exemplo, o foco está em personalizar a análise fiscal de cada cliente, usando simulações tributárias e relatórios gerenciais para apoiar decisões como contratação, abertura de filiais ou transição de regime.

“Temos casos em que uma simples troca de regime tributário representou economia de até R$ 80 mil ao ano. Não foi milagre, foi análise técnica, embasada nos números do próprio negócio.”

Apesar do receio comum em torno do tema, reduzir a carga tributária não significa burlar a lei. Ao contrário: passa por conhecer profundamente o sistema fiscal e aplicar as regras de forma estratégica.

Entre os instrumentos utilizados estão o planejamento tributário anual, a reclassificação de CNAEs, o enquadramento adequado em regimes como Simples Nacional, Lucro Presumido ou Real, e a análise da cadeia de fornecedores e clientes.

“A legislação brasileira é cheia de brechas legais que permitem otimizar a carga tributária. O problema é que pouca gente lê essas brechas — e menos ainda sabe aplicá-las com segurança”, comenta Lucas.

Gestão financeira: a base silenciosa do crescimento

Outro ponto que impacta diretamente o desempenho das empresas,  e muitas vezes é negligenciado, é a falta de organização financeira. A ausência de controle sobre contas a pagar e receber, atraso em conciliações bancárias e a falta de previsibilidade de caixa são gargalos comuns, especialmente entre negócios em expansão.

É nesse contexto que o BPO Financeiro (Business Process Outsourcing) se consolida como uma solução estratégica. Por meio da terceirização da gestão financeira com uma equipe especializada, empresas ganham mais clareza sobre seu fluxo de caixa, reduzem erros e podem tomar decisões com base em relatórios confiáveis.

Segundo dados da ABRACICON, empresas que adotam BPO financeiro apresentam, em média, redução de 30% em perdas operacionais e aumento de até 25% na eficiência de planejamento de caixa.

“Muitas vezes, o cliente não sabe que está perdendo dinheiro simplesmente porque não está olhando para os dados corretos. O BPO traz esse controle. E quem tem controle, tem poder de decisão”, afirma Lucas.

Na prática, isso significa delegar a operação para focar na estratégia  sem abrir mão da segurança. É o que têm feito cada vez mais startups, clínicas, empresas de serviços e varejo que buscam escalar com previsibilidade.

A conclusão é uma só, segundo Lucas, “Num ambiente de negócios cada vez mais volátil e competitivo, usar a contabilidade como alavanca de crescimento não é apenas possível,  é necessário. E pagar menos impostos, com segurança jurídica, gestão financeira organizada e apoio consultivo, pode ser o primeiro passo”, aponta. 

A mudança de mentalidade está em curso. O contador deixa de ser o profissional que entrega guias e passa a ser um parceiro de negócio. Em um país com alta carga tributária, margens apertadas e desafios constantes, isso pode significar a diferença entre sobreviver e prosperar.

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